segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O que sobrou da nossa identidade?

“Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”

Este refrão que você acabou de ler foi entoado por muitas pessoas, principalmente há poucos meses atrás. Milhões de brasileiros cantaram e repetiram incansavelmente esses pequenos versos carregados de ideologia (assim penso, ou pelo menos deveria ser), a cada instante, a cada gol, a cada bola perdida ou defendida durante a desastrosa passagem da nossa seleção pela Copa do Mundo.

Digno de nota. Não. Infelizmente nosso País não é um dos mais patriotas. Embora exista o discurso ufanista, o patriotismo tem passado bem longe das terras “brazucas” (talvez ele tenha se escondido na Alemanha, Reino Unido, na França, ou em outros países europeus, onde o índice de pessoas de origem muçulmana apaixonados pela cultura dos países onde residem é maior do que o amor identitário dos nascidos nos mesmos – segundo pesquisa realizada pelo Instituto Gallup e a Fundação Coexist).

E por que será que o amor a pátria, a defensoria dos valores, a busca por uma identidade e a disseminação da cultura brasileira só se manifesta de quatro em quatro anos? Talvez a resposta não seja tão simples, porém, existem alguns fatores que nos dão subsídios para a construção de um diagnóstico.

Entre eles está a desestimulação da cultura. Atualmente, o Brasil é a 8ª economia do mundo, com PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 1,8 trilhão, podendo tornar-se, daqui a aproximadamente cinco anos, a 5º economia mundial. Estes dados podem parecer animadores, no entanto, o investimento em educação ainda é deficiente. Neste ano o País investiu cerca de 4,6% do PIB no seguimento, o que é pouco. Além disso, existe grave déficit no programa estipulado pela Rede de Ensino. Embora a história brasileira (cultura) esteja na grade curricular e seja replicada aos alunos, ela ainda não estimula, em sua totalidade, e não supre todas as necessidades socioculturais dos estudantes. Infelizmente, nossos jovens não são incentivados a cultuar a nação e os produtos culturais que temos (música, arte, dança e literatura contemporânea). Fato esse que cria certo desinteresse e, por conseguinte, confere ao País uma diluição identitária.

Outro fator diz respeito à globalização. Cada vez mais, somos condicionados a aceitar que temos que ser cidadãos universais. Com isso, a cultura, que até então era propriedade exclusiva da nação, passa a ser executada em um processo mútuo, em que não existe referencialismo, regionalismo, ou costumes e ideias não compartilhadas.

Só para se ter uma ideia, a maioria dos momentos mais importantes da vida de muitos brasileiros não são celebrados e lamentados com artefatos da nossa cultura.

Casamos ao som da marcha nupcial de Felix Mendelssohn (alemão), morremos ao som do pianista Frédéric Chopin (polonês). Enfim, acreditamos que o que vem de fora é melhor, não é a toa que a língua mais falada do mundo é o inglês.

E o olha só, não adianta vir com o papo que é um detentor da cultura nacional ou amante da pátria. Pois não se curte samba somente no carnaval, ou não se vai ao estádio somente durante a final do Campeonato Brasileiro. E também, não se assiste apenas Central do Brasil, ou não se lê somente Carandiru. Mas sim, se aprecia tudo isto e mais um pouco, todos os dias. Ou seja, o processo cultural deve ser contínuo.

Então cabe a você fazer algo para mudar a situação existente. Precisamos resgatar o que sobrou da nossa identidade, senão nossa cultura poderá desaparecer completamente, ou só seremos taxados de “brasileiros” na época da Copa do Mundo onde o modismo e o País estão em evidencia.

“A cultura histórica tem o objetivo de manter viva a consciência que a sociedade humana tem do próprio passado, ou melhor, do seu presente, ou melhor, de si mesma."


(Benedetto Croce)

Artigo publicado na coluna semanária que eu tenho na TVABCD
Data: 27/08/2010
Endereço: www.tvabcd.com.br

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