quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mídia tendenciosa ou verdades que precisam ser ditas?

Há muito tempo se questiona a cobertura da mídia em determinados casos, situações e eventos. Não é de hoje que discussões sobre a chamada "neutralidade jornalística" esquentam os bancos acadêmicos e as rodas universitárias. Mas será que, nos nossos dias, esta prática ainda existe? Utopia ou realidade?

"A vida humana é um mecanismo de escolha, preferência e adiamento."
(Julián Marías)

Dizem que, na concepção dos brasileiros, a paixão nacional é o famoso “bumbum”. Há quem discorde disso, falam que os europeus preferem as mulheres que têm seios fartos, mas por que sempre que surge uma oportunidade eles vem para o Brasil "apreciar" as nossas belezas naturais?

Escolhas, opiniões, preferências...

"Não gosto de futebol, feijoada, cerveja nacional e odeio Copa do Mundo. Se pudesse escolher, moraria em Paris, Nova York ou Londres."
(Ed Motta)
Atípico diriam alguns. Não, somente preferências. Nada é mais evidente do que o estado natural do homem de escolher ou optar por algo. A pluralidade sempre existiu, mesmo nos tempos mais difíceis, a história da humanidade nos atesta isto. A verdade é que o ser humano é dotado de conceitos, escolhas, individualidades e ideias.

Todos, sem exceção, temos opiniões e tomamos posição, contra ou a favor, na defensoria de algo. Somos ateus, religiosos, partidários ou apartidários, héteros ou homossexuais, éticos ou antiéticos. Enfim, ou humanos ou desumanos. Mas há quem diga que seja neutro ou mesmo isento. Mas será que existe isenção?

Antes mesmo de você pensar em responder, eu lhe digo: - Não! Segundo tese defendida por alguns estudiosos da análise do discurso, o texto não é autônomo, está repleto de ideologias, impressões, opiniões e crenças, sejam elas explicitas ou não, conscientes ou inconscientes.

Pego-me então questionando, se todos somos imbuídos de ideologias, principalmente no que se diz respeito ao campo intelectual, porque no jornalismo seria diferente? Vale ressaltar que a prática jornalística é realizada por homens comuns (ou você conhece algum ser sobrenatural? Se conhece, me apresente, pois estou curioso!).

Então, porque será que nós, jornalistas contemporâneos (quando digo isto, me refiro à classe), que temos o papel e o compromisso com a verdade, ainda mantemos o mesmo pensamento arcaico de que a neutralidade existe?

Se o principal papel do jornalismo, acima de tudo, é trazer informação e a veracidade, por que existem veículos que pregam a imparcialidade, enquanto são totalmente parciais? Falta de ética, medo da opinião pública, jogo de interesse ou pura insensatez?

Talvez as quatro opções, em alguns casos somente duas ou três. Mas, a questão é: por incrível que pareça, acho que, daqui para a frente, a situação tende a melhorar. Não estou animando ninguém, apenas dizendo que "pode" (não só depende da imprensa – depois eu explico), deve melhorar.

Um exemplo claro foi a declaração de alguns jornais norte-americanos nas eleições presidenciais dos EUA, em 2008. O New York Times, Los Angeles Times, Chicago Tribune e oWashington Post expuseram publicamente seu apoio à campanha do candidato Barack Obama. Nas eleições de 2000 e 2004, o Times já havia declarado seu apoio às candidaturas dos democratas Al Gore e John Kerry.

No Brasil, recentemente (no mês de julho), aconteceu um caso similar. O diretor de redação Miro Carta, da revista Carta Capital, escreveu um editorial com o título “Por que apoiamos a Dilma?". No texto publicado, o veículo explica os motivos do apoio à candidata do PT. Veja:

"Guerrilheira, há quem diga, para definir Dilma Rousseff. Negativamente, está claro. A verdade factual é outra, talvez a jovem Dilma tenha pensado em pegar em armas, mas nunca chegou a tanto. A questão também é outra: Carta Capital respeita, louva e admira quem se opôs à ditadura e, portanto, enfrentou riscos vertiginosos, desde a censura e a prisão sem mandado, quando não o sequestro por janízaros à paisana, até a tortura e a morte. De todo modo, não é apenas por causa deste destemido passado de Dilma Rousseff que Carta Capital declara aqui e agora apoio à sua candidatura. Vale acentuar que neste mesmo espaço previmos a escolha do presidente da República ainda antes da sua reeleição, quando José Dirceu saiu da chefia da Casa Civil e a então ministra de Minas e Energia o substituiu. Reconhecemos em Dilma Rousseff a candidatura mais qualificada e entendemos como injunção deste momento, em que oficialmente o confronto se abre à clara definição da nossa preferência."

Coragem, exibicionismo ou suicídio? Não. Pelo contrário: opção, posição, preferência, verdade, compromisso com a população e comprometimento com o jornalismo. Esta a foi a fórmula mágica utilizada. (digo mágica, porque se fosse fácil, todo mundo faria). E olha que eu não estou dizendo isto por conta da escolha da candidata Dilma Rousseff, até porque eu não sou petista. Mas, pelo simples fato, da divulgação da verdade. A população precisa ter conhecimento do real, está na hora de os veículos de comunicação assumirem seu verdadeiro papel (comunicar, informar e difundir), até porque a população precisa ter conhecimento – mesmos dos mecanismos internos.

Chega de apostar em uma linha editorial ambígua, chega de textos e fotos com duplo sentido, abaixo a imprensa mascarada.

Lembra-se de que eu disse anteriormente que explicaria o por que de a imprensa não ser somente a responsável na construção de um ideário imparcial? Pois, então, explico: o processo depende também de você. Felizmente, você leitor, exerce um papel fundamental dentro deste ciclo, o de tomar partido (não me refiro à filiação a um partido político, mas sim, ao ato de não ser conivente ou aceitar tudo o que está sendo dito). Enquanto houver descomprometimento, seja por parte da imprensa ou por sua parte, as coisas podem até acontecer, mas não da forma, nem no tempo esperado. Então mexa-se, cobre, exerça seus direitos, colabore com a constituição de uma nova cultura midiática nacional.

Lembre-se: há verdades que precisam ser ditas.

Artigo publicado na coluna semanária que eu tenho na TVABCD
Data: 13/08/2010
Endereço: www.tvabcd.com.br









RODRIGO FREITAS

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